terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Reinventa-te, futebol carioca

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Em 2008, pelos verdejantes relvados latino-americanos, o futebol carioca proporcionou alguns lampejos do que já representou um dia. Como de praxe, contudo, o fim do ano serve para fazer ecoarem as chacotas de paulistas e cia., que propagam seu bairrismo mundo-da-bola afora ao gargalharem dos infindáveis fracassos das agremiações fluminenses em quase todas suas empreitadas esportivas.

É bem verdade que o Flamengo usou o ano para consagrar uma espinha dorsal competente, formada em 2007, que conta com dois alas ultra-ofensivos, uma confiável e experiente dupla de zaga e, na meia, um talentoso prata-da-casa, como reza a tradição rubro-negra.

Não é mentira, também, que o Fluminense viveu seu sonho de uma noite de verão, ao fazer uma respeitabilíssima campanha na Libertadores, torneio em que não tinha tradição alguma.

E que atire a primeira pedra aquele que não reconhecer que, em General Severiano, quem sobressaiu foram dois técnicos. Cuca, que mais uma vez mostrou seu dom em montar bons times sem gastar quase nada; e Ney Franco, que, com sua franqueza, levou o elenco alvinegro a subir feito foguete no Brasileiro, depois de um preocupante marasmo.

Mas o que fica na retina é o inédito rebaixamento cruzmaltino. Time das goleadas. Time - e clube - em frangalhos, endividado até as tripas. Time que, por isso, perderá o pouco capital humano que conseguiu arrecadar em 2008. Haja trabalho para Dinamite...

Como esquecer o fiasco flamenguista na Libertadores, na festa de despedida do Papai Joel? Convidaram o guloso Cabañas e, devo dizer, ele se esbaldou e deu até prejuízo. E só de pensar que ainda há quem menospreze o talento do artilheiro paraguaio... Veio Caio Júnior e quase nada mudou. Um bom início no Brasileirão, como todos estão carecas de saber, implica na perda de alguns jogadores na janela de transferências. O Flamengo, talvez por não ter se visto nessa situação com muita freqüência nos últimos tempos, foi amador ao lidar com a perda de seu ataque. Por isso, perdeu a chance de brigar pelo título. E no fim do ano, com direito a um inexplicável oba-oba de Márcio Braga e seus asseclas, o time colecionou fracassos na reta final do Brasileirão e ficou de fora também da Libertadores.

O Fluminense, no início de 2008, prometia um timaço. Era essa a palavra do hoje desempregado Branco, sustentada pelos muitos reais da Unimed de Celso Barros. O clube, então, fez como seu ex-coordenador de futebol nos Estados Unidos, em 94: foi às compras. Montou, de fato, um bom time. Mas não um elenco. Como resultado, após a perda da Libertadores, o Tricolor viu-se claudicante no Brasileiro, tendo acumulado pouquíssimos pontos enquanto jogou com o time B.




E a regra "após toda e qualquer campanha de destaque no primeiro semestre, vem o assédio dos europeus, famintos por pé-de-obra barato e talentoso" não foi levada muito a sério nas Laranjeiras. Na barca, levaram para o Velho Mundo Thiago Neves, Cícero e Gabriel. Como no caso do Flamengo, esse assédio não era esperado. A reposição, além de ter demorado, não foi à altura e o time só escapou do rebaixamento graças ao esforço de outros clubes, que "foram merecedores" - para usar um termo da moda; e ao bom trabalho motivacional de René Simões, que, em vez de afirmar que o Fluminense iria brincar no campeonato, convenceu o elenco de uma verdade irrefutável: o Tricolor tinha mais time que, pelo menos, mais dez integrantes da Série A.

O Botafogo, por sua vez, traçou planos mais modestos que os rivais. Cuca começou o ano montando um elenco que atraiu expectativas quase nulas. O time formado era, de fato, limitado. Mas funcionava como uma engrenagem, tinha toque de bola envolvente e, principalmente, demonstrava uma entrega notável - ingrediente que esteve em falta nas prateleiras alvinegras em 2007. Com a perda do título carioca e a eliminação nas semi-finais da Copa do Brasil, Cuca caiu. A mágica se desfez. A campanha no Brasileiro era fraquíssima e o trabalho de Geninho não surtia efeito. Chegaram Ney Franco e Carlos Alberto e o que parecia improvável aconteceu. O time ascendeu na tabela e voltou a mostrar a velha motivação. Eis que veio uma nova eliminação na Sul-Americana e, de repente, um vazio. As dívidas cresciam, o Engenhão passou a ser visto como um elefante branco, o plantel - outrora barato - passou a ser visto como caro e as perspectivas em General Severiano eram negras. Montenegro, que nunca se preocupou muito com seu ibope no elenco, meteu a boca no trombone, acusou Deus e o mundo e o ano, do nada, acabou. Todo o trabalho feito nesse ano foi jogado no lixo por um Botafogo que, embora tenha acertado ao renovar com Ney Franco, parece se encantar com o mito de Sísifo.

Agora, em meio às reformulações dos escretes cariocas, é interessante observar o perfil dos contratados (e suas medidas extra-campo, claro) e ver se os clubes realmente aprenderam com seus - muitos - erros. Afinal, jogadores como Beto, Ailton, Ramon, Petkovic, Edmundo, Romário, Bebeto, Jorge Luis, Válber, Pimentel, Djair, Pingo, Alexandre Torres, Wilson Gottardo, Donizete Pantera e Leandro Ávila estão apagando cada vez mais velinhas. Muitos deles já se aposentaram e são vistos nas quadras de showbol.



E é aí que eu me pergunto: a quem recorrerão os cariocas? Será que a mentalidade mudou? A "filosofia de trabalho" - como gosta de dizer o 'pofexô' - acompanhará os novos tempos desse negócio chamado futebol ou o esporte do Rio continuará marcado pelo risível amadorismo de sua administração? Aguardemos 2009.
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