terça-feira, 7 de junho de 2011

Os ricos da sarjeta

Saiu da dentista naquela tarde assoberbada de terça-feira, pegou o elevador e procurou pensar em coisas boas. Lembrou de quando a vida lhe sorria. Discretamente riu, resignado.


Pôs os pés no asfalto e foi molhado pelos primeiros pingos celestiais, que caíam furiosos. Lembrou das palavras de Rubem Braga e pensou que talvez não fosse tão pequeno. A solidão da rua é que o fazia menor entre os altos edifícios. De frente para o metrô Brigadeiro, caminhou decidido na calçada da Paulista, por entre dezenas de yuppies com suas briefcases, que de noite se tornavam punks, neonazis, indies e góticos por aquelas mesmas bandas da cidade.

Na primeira esquina, quase tropeçou em um casal de indigentes deitados no meio-fio, que, acostumados aos tapas da vida, nem se incomodaram. Seguiu marchando em direção a Santo Amaro, mas algo lhe intrigou. Deu meia-volta.

- Oi, posso pagar um PF pra vocês?

Pagou. E não falou mais uma palavra. Sentou no banquinho do buteco da Rua Carlos Sampaio e pôs-se apenas a observar a refeição do casal maltrapilho que, embora comesse com a sofreguidão de quem soubesse que aquilo era raro, parecia desfrutar como a um jantar a luz de velas, no céu cinza das cinco da tarde. Eram, de fato, um lindo par. Tinham brilho. Alma. Olhavam-se com vivacidade.

Pensou no seu passado todo. Lembrou dela. Sorriu. Entendeu um bilhão de coisas. Seguiu seu rumo de volta a Santo Amaro.

2 comentários:

Free-I_Dixon disse...

Gostei bastante de como usa as palavras. Parabéns

sports fan disse...

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Frank
frank641w@gmail.com