domingo, 11 de janeiro de 2009

Os feridos

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Jogue pela direita ou pela esquerda, viva no país em que viver, seja descendente do que for, tenha nascido onde tiver, com a pele da tez que for, creia no Deus que preferir; mas permita-me duvidar de tua indiferença ao que ocorre hoje lá do outro lado do mundo.

O mais estranho é que, por algum motivo (e algo me diz que a propaganda tem a ver com isso) soa piegas e até um tanto ridículo derramar lágrimas ou perder o sono por isso. Quem o faz parece demagogo ou hipócrita... É cool, contudo, se emocionar com a eleição de um novo homem forte na América. São os ventos da mudança soprando na terra da democracia. Mudança? Democracia? Bem, isso é outro assunto e, bom, o meu ceticismo não vai me desviar do que importa aqui.

Como numa novela, tende-se a adotar uma visão maniqueísta dos fatos. É típico de nós, não há como negar. É cômodo. Perde-se então a oportunidade de estudar a fundo a história, como ela é. Boa parte da imprensa, sob o pretexto de "adotar uma postura independente", amarela e não se posiciona. Pra quê se comprometer? O inconfundível sotaque provinciano de Antônio Roque Citadini já alertava para a tal "imprensa marrom". Nas entrelinhas, contudo, pode-se ler muito. Ora, ser independente e isento é uma coisa (e é isso que se espera da imprensa, afinal - e não é nenhum favor). Ser imparcial é outra. É o equivalente a pipocar. E olha que a mídia do Brasil tem ficha corrida nesse quesito...



São 901 mortos e 3695 feridos em Gaza até agora, certo? Errado.

Fale a verdade... assim como eu, quando ouve o termo "ferido", você é tomado por um estúpido alívio e pensa: "Bom... menos mal, pelo menos não morreu". Fica aí a impressão de que o ferimento é uma leve escoriação, um hematoma ordinário que logo nem se fará mais notar. Bem... não é bem assim. Em genocídios como o presente, perdem-se olhos, pernas, braços, mãos, sentidos... O mais importante: perdem-se lares, mães, pais, maridos, mulheres, filhos, avós. Perdem-se razões para viver. Ganham-se, pois, razões para matar. Perpetua-se o ódio e a política (o que é isso?) passa a segundo ou terceiro plano. Isso é chover no molhado. Resta um trauma... um trauma que eu, da frieza desse computador - e desse país que esquenta os motores para o imperdível BBB 9 - não sei descrever. E provavelmente você, que teve paciência para ler esse texto, também não sabe. Não sabemos porque não vivemos isso. E não é egoísmo nenhum dizer "ainda bem".

Mas sim, amigo, sem pieguices, a cada segundo que passa pode acreditar que eu tenho mais e mais motivos para me somar a essa lista.


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Um comentário:

Anônimo disse...

A importância, o destaque, a descrição das previsíveis babaquices do BBB 9, com a cobertura maciça da imprensa, dá a exata medida do seu, do meu, dos nossos espantos com relação ao desvio de olhares e reação tão banal ao que acontece com os feridos. TODOS. DE LÁ E DAQUI.